Como analisar o rótulo dos alimentos se tiver alergia?
Cerca de 520 milhões de pessoas sofrem de alguma forma de alergia alimentar em todo o mundo, 17 milhões na Europa. Os sintomas deste tipo de alergia podem variar desde reações cutâneas ou transtornos digestivas em casos ligeiros, até anafilaxia ou dificuldades respiratórias nos casos mais graves.
Sejam quais forem os sintomas, todas as pessoas com alergias alimentares querem evitar as suas consequências, pelo que o momento da compra é muito importante. Ler com atenção o rótulo dos alimentos é fundamental para evitar os efeitos destas reações do sistema imunitário.
O que deve incluir um rótulo de um produto alimentar?
Os rótulos dos produtos alimentares dizem-nos o que vamos comprar e consumir. Incluem informação não só sobre os ingredientes, mas também sobre a origem, dados nutricionais ou a quantidade de calorias. Ler os rótulos dos alimentos e compreendê-los ajuda-nos a fazer escolhas acertadas e saudáveis sobre a nossa alimentação. E no caso das pessoas com alergias ou intolerâncias alimentares, permite-lhes identificar possíveis alergénios.
Na União Europeia, existe o Regulamento (UE) Nº1169/2011 relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios, que regula a rotulagem com o objetivo de garantir o direito dos consumidores à informação e de alcançar um elevado nível de proteção da sua saúde.
Este regulamento estabelece que os rótulos devem mencionar obrigatoriamente os seguintes elementos: denominação do género alimentício, lista de ingredientes, todos os ingrediente que provoquem alergias ou intolerâncias, quantidade de determinados ingredientes ou categorias de ingredientes, quantidade líquida do género alimentício, data de durabilidade mínima ou data-limite de consumo, condições especiais de conservação e/ou utilização, nome ou firma e endereço da empresa, país de origem ou local de proveniência, modo de utilização, se necessário, e informação nutricional.
Posteriormente, em 2017, a Comissão Europeia adotou uma notificação sobre a informação alimentar facilitada em relação às substâncias que provocam alergias e intolerâncias, atualizando as orientações sobre a rotulagem de alergénios. Mas como tudo isto se traduz na informação que vemos nos rótulos? Sabemos como ler os rótulos dos alimentos?
A informação nutricional
Já vimos qual o regulamento a que deve obedecer a rotulagem dos géneros alimentícios e, de acordo com este regulamento, é obrigatória a inclusão de informação nutricional, ou seja, informação referente à presença de valor energético e de determinados nutrientes. O objetivo é que a inclusão desta informação nos artigos contribua para a educação dos cidadãos em matéria de nutrição e lhes permita tomar decisões informadas sobre a sua alimentação.
O regulamento estabelece a declaração dos valores nutricionais por 100 g ou 100 ml de produto. No caso de o alimento incluir porções de outros tamanhos, pode ser acrescentada informação nutricional por porção ou unidade de consumo. Nesta secção, é obrigatório incluir:
- O valor energético
- As quantidades de gordura, ácidos gordos saturados, hidratos de carbono, açúcares, proteínas e sal.
Opcionalmente, a informação nutricional pode ser completada com a indicação da quantidade de ácidos gordos monoinsaturados, ácidos gordos polinsaturados, polióis, amido, fibra alimentar e qualquer vitamina que esteja presente em quantidades significativas.
O rótulo dos alergénios
Se nos perguntarmos para que serve a rotulagem dos alimentos, é evidente que a informação nutricional interessa a toda a população, mas, sem dúvida, a parte que corresponde à presença de possíveis alergénios é vital para muitas pessoas. A alergia ao tomate, aos frutos secos, aos ovos ou ao marisco são apenas algumas das reações alimentares mais comuns, mas existem muitas outras.
A legislação europeia estabelece um total de 14 alergénios que devem ser declarados nos produtos, assim como os elaborados a partir deles: cereais que contêm glúten, crustáceos, ovos, peixe, amendoins, soja, leite, frutos de casca rija, aipo, mostarda, grãos de sésamo, dióxido de enxofre e sulfitos a partir de determinadas concentrações, tremoços e moluscos.
Os rótulos dos produtos devem indicar a denominação do alergénio de forma a que este se destaque dos restantes na lista de ingredientes. Isto é, deve estar escrito num tipo de letra diferente, cor ou tamanho de letra maior.
Se não houver uma lista de ingredientes, devemos procurar a palavra “contém” para saber se o produto é elaborado com algum dos alimentos que nos causam alergia.
Passos para verificar a rotulagem dos alimentos
Já sabemos para que serve a rotulagem dos alimentos e a sua especial relevância para as pessoas com alergias. Mas como aprender a ler os rótulos dos alimentos? Basta seguir alguns passos básicos muito simples.
Identificar os ingredientes principais
Em primeiro lugar, procure a lista de ingredientes. Estes aparecem ordenados da maior para a menor quantidade presente no produto.
Procurar alergénios comuns
Uma vez localizada a listagem, é necessário identificar os ingredientes alergénicos. Isto deverá ser fácil, já que como vimos, o nome da substância deve destacar-se na lista com um tipo de letra que a distinga claramente do resto da lista de ingredientes, por exemplo, por tipo de letra, estilo ou cor.
Prestar atenção às advertências
A informação presente nos rótulos melhorou significativamente nos últimos anos, devido não só à regulamentação, mas também a uma maior consciencialização sobre estas patologias. No entanto, no caso das pessoas que sofrem de alergias ou intolerâncias alimentares, é aconselhável ler atentamente não só a lista de ingredientes, mas todo o rótulo.
Conhecer os termos técnicos
Ao analisar a informação nutricional dos alimentos, é importante verificar se os valores são por 100 g ou 100 ml, ou por porção. As pessoas com alergia ao glúten devem ter em atenção que são rotulados como produtos “sem glúten” os produtos que não contêm mais de 20 mg por quilo, e como de “muito baixo teor de glúten” os que contêm menos de 100 mg de glúten por quilo.
Exemplos de rotulagem de alimentos
São numerosos os produtos que contêm alguns dos 14 alergénios enumerados na legislação europeia, pelo que poderíamos citar vários exemplos de rótulo. No caso dos ingredientes que são produzidos a partir de cereais que contêm glúten, é necessário especificar o tipo específico, ou seja, trigo, centeio, cevada ou aveia. Por exemplo:
Ingredientes: vinagre de malte de cevada, flocos de aveia
A palavra “glúten” pode ser acrescentada voluntariamente junto do tipo específico de cereal. Por exemplo:
Ingredientes: farinha de trigo (contém glúten).
No caso dos frutos de casca rija, o tipo específico deve ser indicado na lista de ingredientes. Por exemplo:
Ingredientes: aromatizantes (amêndoa).
Aqui pode ver alguns exemplos de rotulagem em que os alergénios são destacados tipograficamente, tal como estabelecido pela legislação europeia.
Em suma, os rótulos são uma ferramenta essencial para identificar os ingredientes alergénicos, para que todas as pessoas que sofrem deste tipo de patologia possam evitar as reações adversas que provocam. Mas não só, a correta rotulagem dos alimentos é um direito do consumidor, pois garante-lhe o acesso à informação sobre o que compra e consome, para que possa tomar decisões informadas sobre a sua alimentação e saúde.
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